Europa 70

Esta coleção complementa a “Alemanha dos anos 70”, com as experiências vividas em outros países e cidades da Europa, na mesma época.

Serão sete publicações, descrevendo uma localidade em cada semana.

Entre Mozart e Noviça Rebelde

Falar sobre a Áustria é impossível não se lembrar de Mozart e de valsas vienenses. Terra de grandes compositores e de episódios inesquecíveis na evolução da Europa Central, alternando entre conflitos e calmaria de vidas palacianas e música.

Numa de nossas viagens com o fusca alemão, fomos conhecer este país desde Salzburgo até Viena. Foi em setembro de 1974.

Salzburgo é a cidade natal de Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), um dos maiores compositores do período clássico. Foi uma criança prodígio, apresentando-se publicamente já aos cinco anos de idade. Passou a adolescência entre compor e apresentar-se em público pelas principais cidades da Europa. Residiu seus últimos dez anos em Viena, onde morreu aos 35 anos, acometido de febre reumática. A sua criação musical é muito rica, tendo composto óperas, sinfonias, sonatas entre outras, todas bem conhecidas mundialmente. A Flauta Mágica, As Bodas de Fígaro, Don Giovanni, Pequena Serenata Noturna, são alguns títulos dos mais famosos e ouvidos popularmente.

Arredores de Salzburg, 1974.
Casa onde nasceu Mozart, 1974.

Esta cidade foi palco de um dos filmes mais premiados até hoje, a Noviça Rebelde, no qual estreia Julie Andrews e Christopher Plummer. É um clássico dos musicais e romance, em meio as intrigas entre Alemanha e Áustria, nos anos que antecederam a II Grande Guerra. O título original do filme, de produção norte-americana, é The Sound of Music, ao qual devo ter assistido umas oito vezes, em cinemas no Brasil, em versão alemã em Hamburgo e em fitas VHS e CDs.

Enquanto passeávamos pelas ruas, jardins e no passeio ao Burg, de Salzburgo, pude relembrar as locações feitas durante as filmagens. Foi uma experiência interessante.

Palácio do rei divertido, 1974.

Dentre os castelos que visitamos, há aquele em que vivia um rei divertido. Nos jardins, ele mandou construir uma mesa em alvenaria, grande e retangular, com bancos ao longo dela. Os bancos tinham orifícios, que num determinado momento, no meio do almoço, os convivas eram surpreendidos por esguichos de água vindos do assento.

Salzburgo, com o rio Salzach. 1974.
Jardim florido, com o Burgo. 1974.

Com a nossa cara de japoneses, é comum sermos confundidos onde quer que estejamos por este mundo afora. Acham que somos japoneses, coreanos ou chineses. Foi em Viena que aconteceu uma dessas abordagens. Estávamos no centro, de tarde, absorvendo cultura em visitas a museus e monumentos históricos. De repente, uma jovem de origem nipônica nos aborda, perguntando em japonês.

            – Com licença, vocês poderiam me dizer onde fica o prédio da Ópera de Viena?

            – I am sorry. We are not japanese.

            – Oh, sorry, sorry.

E saiu de fininho… Japonês é muito cara de pau. Pensa que pode ir falando na sua língua para qualquer um que tenha fisionomia asiática.

Passear em Viena significa visitar o Palácio de Schönbrunn, onde nasceu e morou a imperatriz Leopoldina antes de ser enviada para se casar com Dom Pedro I. Ali, é possível apreciar pinturas que retratam a mulher do proclamador da independência do Brasil.

Além do prédio principal, existe um enorme jardim e um mirante que fica no alto de uma colina. Este mirante foi locação para outro filme clássico, “Sissi, a imperatriz”, com Romy Schneider. Ali era o seu refúgio para descansar, longe dos olhares da corte.

Palácio Schönbrunn, 1974.
Mirante do palácio, 1974.
Neusa no Mirante, 1974.
Takao no Mirante, 1974.

Foi na capital austríaca que comemoramos o meu aniversário de 28 anos.

Meio século atrás.

Copenhague: misto de sereia e pornografia

Uma viagem digna de ser relatada foi quando passamos o Réveillon de 1975 na capital da Dinamarca, Copenhague.

Tivemos a companhia de um casal de brasileiros, gaúchos, que trabalhava em Hamburg. Eram a Beth e o Paulo (apelidado de Paulo Pancada).

A travessia da península de Fehmarn (Alemanha) para Copenhague com barco durou cerca de quatro horas. Era uma rota comercial diária, mais conhecida como “Butterfahrt”, ou seja, viagem da manteiga. Os alemães faziam esta rota com a finalidade quase única de comprar a mercadoria na duty free dentro da embarcação, sem pagar taxa. No navio todo, acho que eram toneladas do produto a mudar de consumidores dinamarqueses para alemães.

Embora nossa cabine não fosse da primeira classe, era suficientemente ampla e confortável. Podíamos passear pelo convés do nosso andar e desfrutar da vista do Mar Báltico.

Cabine do ferry da Alemanha para Copenhague, 1975.

Nosso primeiro passeio tinha como destino a Sereia de Copenhague. Só conhecíamos a estátua por fotografia e não tínhamos ideia do seu tamanho. Ao chegarmos na praia onde se encontrava nosso alvo, foi um misto de surpresa e decepção. A ideia que se tinha era de ser uma escultura grande e vistosa. O seu tamanho real não passa de uns 80 cm de altura total, tentando se equilibrar sobre duas pedras na praia. Foi um aprendizado importante para não ser iludido por imagem fotográfica, no que diz respeito a escala dimensional do objeto em relação ao tamanho real.

Sereia de Copenhague, 1975.
Neusa e o casal Paulo/Beth, 1975.

O que marcou esta viagem foi a obsessão do Paulo Pancada em visitar as lojas de artigos eróticos e querer entrar em cineminhas onde se exibiam fitas pornográficas. E esse tipo de comércio é aBUNDAnte naquela capital. Existem bairros onde tal tipo de exibição é parecido com a rua 25 de março em São Paulo ou em Ciudad del Este, no Paraguai.

Este foi o réveillon mais atípico que experimentamos.

Sentir-se em casa quando na Itália

A Itália foi o primeiro país que fomos conhecer, logo nas primeiras miniférias dos estudos na Universidade de Hamburgo.

Viagem de trem noturno, atravessando os Alpes. Em Roma, ficamos hospedados num hotel gerenciado por freiras. Pensão completa, com desjejum, almoço com entrada de uma massa, prato principal com alguma proteína animal e sobremesa, jantar com entrada de massa e sopa.

O brasileiro quando chega na Itália sente-se em casa. Trânsito caótico, pessoas gesticulando e falando alto ou gritando nas ruas. As calçadas, nem sempre limpas, tropeça-se em papel, tocos de cigarros, restos de comida etc. Apesar de expansivos, os romanos nem sempre são gentis e as informações que dão, nem sempre corretas. Por cultura, os gestos de grazie e prego, amenizam uma rudez aparente.

A cidade de Roma inteira é um verdadeiro paraíso turístico e boa parte das construções medievais estão em bom estado de conservação ou foram restauradas em sua arquitetura original. Em se conhecendo a história, ao passear pelos monumentos, vemos passar séculos de cultura, pujança, nobreza, pobreza, poder, escravidão como num filme, no qual sentimos visualizar cenas e sons que nos levam àqueles períodos épicos.

No Coliseu, parece que sentimos as vibrações do povo nas arquibancadas, gritando e gesticulando com o dedão para baixo, pedindo para o sacrifício dos escravos pelos leões ou pelos carrascos lutadores. No Circo Máximo, pudemos visualizar o desfilar e correr fatídico das bigas, como no filme “Ben Hur”.

Neusa, no Coliseu de Roma, 1974.
Circo Máximo, Roma, 1974.

O Vaticano é uma visita obrigatória quando se está em Roma. Naquela viagem, tivemos oportunidade de ver o Papa Paulo VI num discurso feito dentro da Basílica.

Em todas as nossas viagens, sempre procuramos e fizemos boas amizades com companheiros de excursão. Na maioria das vezes, éramos os mais jovens do grupo, o que nos deixava bem a vontade para compartilhar as experiências e opiniões, oportunidade em que aprendíamos bastante com os mais idosos.

Com a Sra. Plassmeier, no Vaticano, 1974.
Companheiros de viagem, Roma, 1974.

Passear pelo Foro Romano é viajar no tempo e espaço, parcialmente destruído, contudo, com estruturas originais que mostram toda a pujança deste local, que outrora fora o centro do mundo. Da mesma maneira, a visita às Termas de Caracala nos levou novamente ao filme “Ben Hur”, onde os senhores do império romano se banhavam. Na parte subterrânea da construção, os escravos se ocupavam em aquecer a água e providenciar os vapores para a sauna.

Foro Romano, Roma, 1974.
Termas de Caracala, Roma, 1974.

Outras localidades de igual importância histórica e turística que visitamos nesta viagem, foram: litoral de Anzio, Ostia Antica, Ilha de Capri, Frascati, Nápolis, Tívoli e Vila Adriana.

Em cada lugar, uma história.

Em Ostia Antica, vilarejo onde começou a cidade de Roma, existe um sítio arqueológico, com boa conservação dos monumentos e construções. Há uma latrina coletiva, que provavelmente era pública para as necessidades de várias pessoas. Todos os visitantes queriam mostrar a finalidade da construção, mas ninguém queria demonstrar o como usar. Não me fiz de rogado e fui me sentar confortavelmente num dos lugares. Daí, fui alvo de uma enxurrada de flashes de câmeras fotográficas. Senti-me como um rei sentado em meu trono.

Ostia Antica, 1974.
Latrina pública em Ostica Antica, 1974.

A Ilha de Capri é um destino sonhado pelos casais jovens, um paraíso romântico em meio a arquitetura colorida e paisagens naturais de perder o fôlego. A visita à Lagoa Azul, onde há um acesso por debaixo das pedras, os raios de sol penetram na água, misturando-se com o leito e refletindo um azul indescritivelmente belo.

Tívoli é um monumento às deusas d’água, onde consegui extrair o líquido ao apertar os seios pétreos de uma delas.

Casal em lua de mel na Ilha de Capri, 1974.
Tirando água da pedra, Tívoli, 1974.

Contar histórias e descrever lugares é como viajar no tempo. Registro para a posteridade e exercício para a memória.

Daí, as Crônicas Memoráveis.

Viajantes incógnitos em Londres

A viagem para conhecer Londres foi uma das mais atípicas que experimentamos durante nossa estada na Europa.

O trecho de Hamburgo à capital inglesa foi realizado em avião, a única viagem aérea que fizemos em todo o período dos meus estudos.

Embora tenhamos visitados inúmeros monumentos, não há muitas histórias pitorescas dignas de relato. Assim, nesta matéria, vou descrever mais por imagens do que texto.

Vista aérea de Londres, sobre o Tâmisa,1975.
Rio Tâmisa, onde se vê a Coluna de Nelson e a cúpula da Catedral de São Paulo, 1975.

Londres é uma cidade cosmopolita, com habitantes provenientes de todas as colônias que pertenciam ao Reino Unido, sobretudo indianos, malásios e sul-africanos. Consequência disso, resulta que esta cidade e o país não evidenciam uma cultura própria, exceto a requinte da nobreza imperial. Tudo isso reflete na comida, na mistura linguística do inglês, no vestuário, entre outras identidades étnicas. A profusão de restaurantes indianos e chineses, sobretudo, é enorme. Foi aqui que eu vi, pela primeira vez,  um enorme espeto de shawarma na janela de um estabelecimento, quase na calçada. Foi uma visão que ficou gravada em minha memória.

Hyde Park, 1975.
Picadilly Circus, 1975.

Ficamos hospedados num pequeno hotel próximo do Hyde Park, na região central de Londres. Num lugar tranquilo, daqueles que aparecem nos filmes, com sobrados dos dois lados da rua, com escadaria para o acesso à casa. Até me senti um Sherlock Holmes brasileiro, disfarçado de japonês.

Além do Big Ben, um dos ícones mais visitados é a Torre de Londres, onde estão guardadas as joias da Coroa.

A Torre de Londres, 1975.
Neusa e a Ponte da Torre, 1975.

Uma das visitas mais proveitosas foi ao Museu Britânico. Além de outras preciosidades, a peça mais famosa e importante é, sem dúvida, a Pedra de Roseta. Ela foi descoberta no Egito e contém um decreto gravado em três idiomas: grego, caracteres hieróglifos e demótico. Os estudiosos, considerando que o conteúdo era o mesmo nas três línguas, conseguiram decifrar a antiga escrita hieroglífica

A Pedra de Roseta, Museu Britânico, 1975.
Abadia de Westminster, 1975.

Para quem olha apenas para o relógio, o Big Ben, como o nome diz, pensa que se trata de uma enorme construção, com o mecanismo de tempo em seu topo. Isso aconteceu comigo e foi uma pequena decepção, quando vi que o prédio que abriga o relógio é de uma altura baixa em relação ao tamanho do marcador e a sua fama. Achei ridiculamente pequeno.

O Big Ben, 1975.
Neusa, Big Ben e Westminster, 1975.

Uma constatação que marcou minha impressão e memória, foi revelar que dentre as pessoas que mais viaja no mundo e pelo mundo, são os japoneses. Talvez, deva incluir os chineses, em se tratando da época atual. Posteriormente a esta viagem, a constatação foi a mesma em todos os lugares que conhecemos.

Na foto tirada no momento da troca da guarda no Palácio de Buckingham, eu consegui identificar e contar umas 15 pessoas de origem asiática. Em diferentes posições.

Troca da guarda no Palácio de Buckingham, 1975.
Oxford Street, principal rua de comércio, 1975.

Nesta viagem, fomos apenas nós dois. Aliado também as limitações da língua, não tivemos muitos contatos, para compartilhar experiências e conhecimentos. Figuramos mesmo como viajantes incógnitos por Londres.

Holanda: entre casamento e flores

Falar em flores quando se descreve a Holanda até parece um pleonasmo.

Com casamento, daí a coisa se torna um pouco mais interessante.

Viajamos com um grupo de idosos, como sempre, e foi uma das excursões mais proveitosas. Apreciando a arquitetura típica dos Países Baixos, deliciando-se com comidas locais gostosas, bom papo com as velhinhas e um motorista de ônibus bem-humorado e amigo de todos.

Passamos rapidamente por Amsterdam, a capital e metrópole mais populosa, e fomos ao nosso destino, no litoral, um pequeno vilarejo denominado Katwijk, ao sudoeste da capital. Ficamos alojados numa casa que recebe hóspedes, num pequeno quarto. O banheiro com ducha era fora, assim como o WC, este, separado do banheiro. Ele era tão pequeno, que era preciso entrar em passo de caranguejo, esgueirar-se pelo lado do vaso sanitário, fechar a porta e depois se sentar. Ereto, sem poder ler um jornal ou revista, pois a porta estava a alguns milímetros do rosto do usuário.

Amsterdam, 1975.
Neusa em Katwijk, Holanda, 1975.

Na tarde em que chegamos havia chovido bastante e as ruas ainda se encontravam molhadas. Com o sol ainda por se pôr, o seu reflexo na via e nas tranquilas águas do Mar do Norte era uma paisagem bucólica de tirar o fôlego. Foi nesta atmosfera pitoresca, que assistimos a sequência de um casamento na localidade.

Estávamos conversando e planejando o que fazer, quando ouvimos um trotear de cavalos vindo na direção onde nos encontrávamos. Era uma carruagem, parecida com as que aparecem nos contos de fadas, que se destacava na moldura da paisagem descrita acima.

Não sei se por acaso ou por nossa sorte, o cortejo solitário parou no local onde o nosso grupo estava. Muito sorridente e simpática, uma jovem vestida de noiva cumprimentou-nos efusivamente, de onde estava em seu assento dentro da carruagem. Foi a deixa para que o grupo abordasse por volta ao veículo, com o intuito de vê-la mais de perto e, eventualmente devolver os cumprimentos, de acordo com a sua simpatia. Foram momentos curtos e inéditos, que ficaram indelevelmente gravados em nossa memória, fisiológica e fotográfica.

Carruagem nupcial em Katwjik, 1975.
Abordagem para ver a noiva, 1975.

No caminho para Madurodam passamos por outro vilarejo, onde desfrutamos de almoço e um rápido passeio, apreciando os casarios típicos, com as casas instaladas diretamente na calçada, sem ter aquele quintal e jardim na frente. Em todas as janelas havia cortinas ricamente bordadas e ostentando vasos com flores para completar a paisagem.

Madurodam é uma instalação localizada em Scheveningen, nos arredores de Haia, a sede oficial do governo dos Países Baixos. Trata-se da reprodução em miniatura de uma cidade holandesa fictícia, onde estão representados os principais monumentos das metrópoles como Amsterdam e Haia. Tudo, em escala de 1:25, funciona com movimentos e sons, como nos originais: comboio de trem, aeroporto, porto, campo de futebol, desfile defronte ao Palácio Real de Amsterdam, entre inúmeros outros artefatos e edifícios.

Casario na Holanda, 1975.
Um turista munido com câmera e filmadora, em Madurodam, 1975.

A parte final e não menos importante, foi a visita realizada à Keukenhof, um museu de flores a céu aberto, localizado em Lisse, ao sudoeste de Amsterdam. Funciona também como uma exposição dos produtores, para mostrar a qualidade dos frutos de seus empreendimentos. São jardins esmeradamente projetados e a reposição das flores é feita com regularidade. Uma grande variedade de tulipas, cerca de 800 tipos e outros sete milhões de bulbos são plantados anualmente no parque. É conhecida com o Jardim da Europa e é o maior parque de tulipas do mundo. Além desta flor, destacam-se igualmente, narcisos, jacintos, orquídeas e frísias.

Com a florista em Keukenhof, 1975.
Multicolorido de tulipas, Keukenhof, 1975.

O passeio pelos 32 hectares de um multicolorido de flores e seus perfumes inebriantes, lagos, peixes, pássaros diversos, árvores de arquiteturas paisagísticas, é uma experiência inesquecível.

A Holanda foi um país de pequenas dimensões, com grandes emoções. 

Arte em cores no norte da França

A viagem colorida pelo norte da França incluiu a famosa igreja de Ronchamp, a Chapelle Notre Dame du Haut. Esta viagem fizemos com o nosso fusca alemão.

Localiza-se no município de mesmo nome, no alto de um morro da cadeia montanhosa de Vosges, que faz divisa com a Alemanha. Foi projetada por Corbusier para substituir a antiga igreja existente, destruída na II Grande Guerra.

É uma obra única em sua estrutura e paisagem. Vendo de longe, é possível identificar o perfil de uma embarcação, com uma proa proeminente e um grande respiradouro. A capela foi projetada com quatro fachadas, representando os pontos cardeais. As inúmeras aberturas da obra permitem que a luz solar penetre, iluminando e colorindo o seu interior.

Vista parcial da Capela de Ronchamp, que mostra a proa do navio e o respiradouro. 1975.
Fachada esquerda. 1975.
Portão principal de entrada. 1975.
Neusa, ao lado dos sinos da igreja original. Ronchamp, 1975.
Pirâmide maia erigida no loca da antiga igreja. Ronchamp, 1975.

Seguindo em direção a sudeste de Ronchamp, chegamos a Audincourt, um pequeno vilarejo com cerca de 12 mil habitantes. Ali, visitamos a colorida e famosa Igreja do Sagrado Coração de Audincourt. Pequena, moderna, com vitrais multicoloridos que caracterizam a obra arquitetada por Maurice Novarina, em 1952.

Igreja Sacre-Coeur du Audincourt, 1975.
Vitrais e pia batismal da Igreja Sacre-Coeur du Audincourt, 1975.

No caminho de retorno para casa, na Alemanha, fizemos um rápido pit-stop numa área desprovida de habitação, próximo a Colmar.

Neste lugar rural é que viemos a conhecer a planta que produz o mirtilo, conhecida como Blue Berry. Fizemos uma boa degustação dos frutos, assim como levamos um bocado para casa.

Mais de 40 anos depois daquele momento bucólico, pudemos rememorar a cena idêntica, num sítio de produção de mirtilo em Michigan, USA.

Neusa coletando mirtilo, Colmar, França, 1975
Neusa coletando mirtilo, Michigan, USA, 2016.

Do multicolorido das igrejas na França, aos sabores silvestres coletados na hora, o tempo parece inalterado na cor do vestuário, nos gestos, sorriso e disposição para desfrutar da vida.

Paris: pão no sovaco

A capital da França foi o nosso primeiro destino turístico, realizado nas férias de verão em 1974. Viajamos em excursão, num pacote que incluía hospedagem e alguns passeios.

Paris inteira é um complexo turístico, com incontáveis monumentos mundialmente famosos e conhecidos. Visitamos e conhecemos apenas os que nos eram mais familiares, por meio de imagens e leitura.

Nesta viagem, conhecemos o casal de alemães, a família Begelspacher, com o pai, mãe e uma filha em idade ginasial. Foi graças à companhia deles que o nosso debute em viagem turística foi proveitoso, sem grandes entraves. A maioria das visitas foi realizada junto com eles. Eles tornaram-se nossos amigos por longo tempo. Moravam redondezas de Freiburg e com eles, viajamos por algumas localidades na Alemanha.

Foi com o Sr. Begelspacher que aprendi o hobby de fazer filmes. Adquiri uma filmadora e comecei a filmar as nossas viagens. Ele me ensinou como editar os filmes em Super 8, fazer os cortes e colar nos devidos lugares para formar uma película de longa projeção. Desta maneira, tornei-me um cinéfilo de plantão e um Spielberg amador até hoje. Bem mais cômodo e preciso, na era digital.

O ícone da França mais conhecido é, sem dúvida, a Torre Eiffel. Com seus 330 metros de altura, construída inteiramente em ferro forjado e treliçado, é um dos maiores monumentos do mundo, reconhecido como Patrimônio da Humanidade.

Na subida para a torre tomamos inicialmente um elevador que ascende inclinado em 45 graus para alcançar a segunda plataforma e, em seguida, o segundo elevador para chegar até o topo, de onde se tem uma vista de 360 graus da cidade-luz. Daquele lugar, tem-se uma vista maravilhosa da cidade, destacando-se o Palácio e Jardins do Trocadero, monumento vizinho à Eiffel.

Com a Sra. Begelspacher, 1974.
Jardins do Trocadero, 1974.
Neusa na Eiffel. Aparece o Sr. Begelspacher. 1974.

Outros dois ícones de Paris, são duas basílicas: A Notre Dame e a Sacre Coeur. A primeira fica às margens do Rio Sena e a última, no alto de uma colina, a Montmartre, um bairro boêmio da capital.

Ao visitar a Notre Dame, acho que vi , de relance, o Corcunda circundando pelos corredores em volta de uma das torres da igreja.

Basílica Sacre Coeur de Paris, 1974.
Ma Dame et Notre Dame, Paris, 1975.

Ponto alto da excursão, sem dúvida, foi a visita feita ao Museu do Louvre, depositório de inúmeros objetos de arte, desde arqueológicos, passando por obras artísticas da idade média até a era contemporânea.

Quadro original de Monalisa, de Da Vinci, Louvre, 1974.

A obra mais importante do acervo é a Monalisa, conhecida também como Gioconda, pintura de Leonardo Da Vinci produzida no início do século 16.

Na época em que visitamos o museu, o famoso quadro estava simplesmente instalado numa das paredes do salão. Depois de atentados, atualmente está bem protegida, em área restrita e por detrás de um painel envidraçado a prova de balas.

No Palácio de Versalhes, nos arredores de Paris, somos levados à época de pujança de Luís XIV, que marcou a riqueza e poder dos monarcas da era do absolutismo. Passear pelos corredores lindíssimos, emoldurados por enormes quadros com pinturas riquíssimas, que tomam toda a altura das paredes, parece viajar àquele tempo exuberante da corte francesa.

Palácio de Versalhes, 1974
Palácio de Versalhes, 1974

Nas andanças por Paris, observamos uma cena típica daquela época e que persiste, com as devidas atualizações, até os dias de hoje. Numa mesma esquina, visitantes asiáticos em passeio e um senhor carregando um baita baguete na mão, cerca de um metro de comprimento e livre de qualquer embrulho. Em plena Praça Vendôme, uma das mais luxuosas da cidade.

Pão no sovaco, Vendôme, Paris, 1974.
Lua de Mel em Paris, 1974.

A nossa lua de mel prolongada por mais de três anos, foi repleta de emoções, cultura, impressões indeléveis de imagens, odores e sabores e, sobretudo, de muita experiência adquirida, aprendendo por conta própria ou em companhia de amigos cosmopolitas.

Encerra-se assim, esta coleção “Europa ’70” que, junto com “Alemanha dos anos ’70”, formam o registro do período de vivência na Europa, de abril de 1973 a junho de 1976.

Agradeço a inestimável audiência dos meus queridos leitores até aqui e conto com o mesmo importante prestigiamento nas próximas edições.